sábado, 11 de dezembro de 2010

O interessante desinteressante

Algumas expressões que foram incorporadas à língua portuguesa e à maneira dos brasileiros falarem em anos recentes, particularmente na última década, têm uma clara origem na língua inglesa, muitas delas fruto da tradução de manuais de operação empresarial. Esse é o caso, por exemplo, do famigerado uso do gerúndio, que alguns chamam de gerundismo; isto é, expressões tais, como, vou estar fazendo, vou estar verificando, em lugar de um simples uso do futuro do presente, algo como farei ou verificarei. Esse uso tem causado desconforto a muita gente, por um lado, e revela facilmente limites quanto ao uso da língua, por outro. Fato é que, dizem os linguistas, o importante para a língua é o processo de comunicação e, como ela é viva e dinâmica, é natural que incorpore as mais diferentes e inusitadas palavras e expressões, sem necessariamente haver importância quanto à origem ou afiliação que possuem.

Algo, entretanto, que me causa espécie, e que de algum modo decorre do consumo da língua inglesa, é o uso da palavra interessante na língua portuguesa em anos recentes. O uso da palavra interessante é bastante comum na língua inglesa. É uma das 1.000 palavras mais usadas desse idioma, e expressa um sentimento de atenção, curiosidade e importância. Já na língua portuguesa tem sido usada, via de regra, na falta do que dizer, na falta de assunto. É o que eu chamo do interessante desinteressante: quando alguém está diante de uma situação, ou em meio a uma conversa e, não sabendo o que expressar ou que dizer, pára de falar por um rápido momento e diz: — interessante! Sem dúvida, essa é uma forma de se livrar de uma situação e seguir adiante na conversa, que não quer dizer absolutamente nada.

Referências Conexas

BOURDIEU, Pierre. Language and symbolic power. Boston: Harvard University Press, 1999.

FERREIRA, Lucia M. A.; ORRICO, Evelyn G. D. (Orgs.). Linguagem, identidade e memória social: novas fronteiras, novas articulações. Rio de Janeiro: DP&A, 2002.

SCHMITT, Bernd H.; ZHANG, Shi. Language, structure and categorization: a study of classifiers in consumer cognition, judgment, and choice. Journal of Consumer Research, v. 25, n. 2, p. 108-122, 1998.

SPINK, Mary J. Linguagem e produção de sentidos no cotidiano. Porto Alegre: Editora da PUC-RS, 2004.

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Solitária e abandonada

Vermelha, e com design diferenciado, a cabine telefônica se tornou um dos símbolos da cidade de Londres. Talvez sua imagem seja tão representativa da cidade de Londres quanto a própria imagem do Big Ben. Nem mesmo todos os seus atributos, tais como, proporcionar abrigo e proteção contra o vento, a chuva e o frio, além de proporcionar isolamento acústico, foram suficientes para evitar que tivesse seu uso drasticamente reduzido, praticamente abandonado. Tudo isso, graças à telefonia celular. Todos, londrinos ou não, portam telefones celulares e ninguém se detém para falar ao telefone nas cabines. Elas estão lá, solitárias e abandonadas. No entanto, continuam a fazer parte da paisagem como um símbolo remanescente da Londres do século XX.

Obs.: na foto acima é possível observar uma cabine telefônica em uma das saídas do Hyde Park, na cidade de Londres, Inglaterra.

Esse post compõe uma série chamada “Nota de Viagem”. Trata-se de um conjunto de pequenas observações realizadas durante viagens.

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Na Folha é mercado

Talvez tenha passado despercebido para muitos, porém desde 23 de maio de 2010 que o principal jornal de circulação diária do país, a Folha de São Paulo, não tem mais um caderno com o título “economia”. Agora, o caderno que trata de economia, negócios e finanças, tem o título de “mercado”. Aparentemente sutil, a mudança do título reflete a ascensão da categoria de análise mercado na sociedade contemporânea, ao mesmo tempo em que indica a complexidade das relações, eventos e fenômenos em torno de tal categoria, cujo uso como título de um caderno de jornal procura, a um só tempo, expor e sintetizar.

Referências Conexas

CARVALHO, Carmen. Segmentação do jornal, a história do suplemento como estratégia de mercado. In: V CONGRESSO NACIONAL DE HISTÓRIA DA MÍDIA (2007: São Paulo). Anais ... São Paulo: INTERCOM – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação, 2007. (Versão Integral em CD-ROM do Evento)

FONSECA, Silvia C. P. de B.; CORREA, Maria L. 200 anos de imprensa no Brasil. Rio de Janeiro: Contra Capa, 2010.

SANTOS, Gilmar J. dos; ROSSI, Carlos A. V. Market-oriented newspapers: possibilities to conciliate business performance parameters and the traditional values of journalism. In: XXIX ENCONTRO DA ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO (2005: Brasília). Anais ... Rio de Janeiro: ANPAD, 2005. (Versão integral em CD-ROM do Evento)

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Se quiser beber, venha buscar

Durante a realização de eventos no Brasil e em vários outros países é bastante comum os participantes serem servidos por garçons que se dirigem diretamente até os lugares em que estão ou até as mesas que ocupam. Esse hábito não é necessariamente uma regra na Escócia. Lá, durante a realização de eventos sociais, é possível que convidados e participantes que quiserem desfrutar de bebidas precisem se deslocar dos seus lugares até o local onde elas são servidas. Esse hábito desperta a atenção porque, entre outras coisas, sinaliza a pouca propensão para hábitos serviçais entre os britânicos.

Obs.: na foto acima é possível observar garçons e garçonetes no centro do salão do Aberdeen Beach Ballroom, na cidade de Aberdeen, Escócia.

Esse post compõe uma série chamada “Nota de Viagem”. Trata-se de um conjunto de pequenas observações realizadas durante viagens.

domingo, 28 de novembro de 2010

Buy nothing day

Há um movimento que propõe o dia 28 de novembro como o dia mundial para não se comprar nada, absolutamente nada. A rigor, a ideia do movimento é levar as pessoas a refletirem sobre o nível de consumo e gastos que realizam em suas vidas cotidianas. Acredita-se que, em geral, consome-se mais do que o necessário para se viver.

Ainda que o movimento seja voltado para consumidores cujo perfil está relacionado à classe média e a um maior nível de instrução formal, bem como seja um movimento centrado especialmente na realidade estadounidense, onde o consumo alcançou proporções ímpares na vida social, trata-se de algo oportuno.

Naturalmente, há inúmeros desdobramentos associados à reflexão proposta, qualquer que seja a posição que se adote perante a proposição do movimento. Não comprar nada durante um dia inteiro não significa não gastar, já que se consome água, energia, espaço físico e alimentos para se viver. Por outro lado, o que se consome hoje pode ter sido comprado ontem ou pode vir a ser pago amanhã. Em ambos os casos há o ato da compra e o dispêndio de dinheiro.

Tais limitações, contudo, não obscurecem o “buy nothing day”. Em uma sociedade fragmentada, ansiosa e veloz, parar por um dia para pensar sobre o consumo desnecessário é algo culturalmente significativo.

Referências Conexas

BAUMAN, Zygmunt. Collateral casualties of consumerism. Journal of Consumer Culture, v. 7, n.1, p. 25–56, 2007.

FEATHERSTONE, Mike. Cultura de consumo e pós-modernismo. São Paulo: Studio Nobel, 1995.

KLEIN, Jill G.; SMITH, N. Craig; JOHN, Andrew. Why we boycott: consumer motivations for boycott participation. Journal of Marketing, v. 68, n. 3, p. 92-109, 2004.

KOZINETS, Robert V.; HANDELMAN, Jay M. Adversaries of consumption: consumer movements, activism, and ideology. Journal of Consumer Research, v. 31, n. 3 p. 691-704, 2004.

sábado, 27 de novembro de 2010

Papai Noel virou papel higiênico

Algum tempo atrás Papai Noel parecia significar mais do que hoje em dia. Invenção comercial, fato é que, de forma admitida ou não, foi incorporado às tradições cristãs, particularmente católicas, de celebração do Natal. Nos dias atuais, junto com árvores de Natal, Papai Noel está em quase todos os lugares, e logo cedo, desde a segunda quinzena do mês de outubro. Até papel higiênico é possível encontrar com imagens impressas de Papai Noel.

Todas as organizações sociais, coletivas, por definição, precisam de símbolos. Em alguma medida, eles ajudam a compor e dar forma aos rituais. O que acontece atualmente, contudo, é uma espécie de assassinato de símbolos do Natal.

Entre outros exemplos, isso tem ocorrido, pelo menos em parte, em função da perda da ingenuidade cada vez mais cedo, do processo de transformar crianças em adultos e de se diminuir o espaço do que é lúdico em grupos de referência como família e escola. Por outro lado, ocorre especialmente devido à intensidade dos padrões de consumo e comercialização de produtos relacionados ao Natal e seus símbolos. O curioso é que tal fenômeno produz uma espécie de paradoxo: o consumo excessivo e antecipado de símbolos do Natal faz com que tais símbolos se esvaziem em seus significados e, por conseguinte, esvaziem o próprio Natal. Papai Noel é apenas a face mais visível deles.

Referências Conexas

BELK, Russel W. Materialism and the modern U.S. Christmas. In HIRSCHMAN, Elizabeth C. (Ed.). Interpretive Consumer Research. Provo: Association for Consumer Research, 1989. pp.75-104.

BENOIST, Luc. Signos, símbolos e mitos. Lisboa: Edições 70, 1999.

McKECHNIE, Sally; TYNAN, Caroline. Social meanings in Christmas consumption: an exploratory study of UK celebrants' consumption rituals. Journal of Consumer Behaviour, v. 5, n. 2, p. 130-144, 2006.

OLIVEIRA, Josiane S. de; VIEIRA, Francisco G. D. Com os pés na Igreja e as mãos nas compras: compreendendo a influência religiosa na constituição dos significados atribuídos ao consumo de presentes de Natal por jovens cristãos. In: IV ENCONTRO DE MARKETING (2010: Florianópolis). Anais ... Rio de Janeiro: ANPAD, 2010. (Versão integral em CD-ROM do Evento)

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Consumindo a céu aberto


A ideia do consumo a céu aberto é tão antiga quanto às primeiras aglomerações realizadas para a prática de escambo entre artesãos e camponeses. Na sociedade moderna, ela se caracteriza notadamente pelas feiras livres organizadas nos bairros das cidades. Recentemente, agentes de mercado incorporaram essa concepção em torno do que chamam de open shopping, um nome palatável aos consumidores de alta e média renda. A rigor, o que hoje se define como open shopping lembra muito os calçadões que foram construídos nos centros de várias cidades brasileiras nos anos 1980.

Obs.: a foto acima é do Jurerê Open Shopping, na Praia de Jurerê Internacional, Florianópolis, Brasil.

Esse post compõe uma série chamada “Nota de Viagem”. Trata-se de um conjunto de pequenas observações realizadas durante viagens.

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Com Jesus no pára-brisa e o pé no acelerador

Eles dirigem a toda a velocidade pelas ruas e avenidas. Não estão preocupados em fazer um indicativo de direção por meio da seta e tampouco respeitam a sinalização do trânsito. Pedestres devem pensar pelo menos duas vezes para atravessar a faixa quando eles estão trafegando em uma das milhares de vias urbanas. Eles são os motoristas que possuem o hábito de colocar adesivos com passagens da Bíblia ou com o nome de Jesus Cristo nos pára-brisas traseiros de seus automóveis. Tais adesivos, com dizeres como “Só o Senhor Salva”, “Jesus é o Senhor”, “Jesus me Ama”, “Guiado por Jesus” e“Deus é Fiel”, entre outros, ao mesmo tempo em que fornecem uma identidade para esses motoristas, funcionam como uma espécie de licença para fazerem o que quiserem e bem entenderem, inclusive baixarem o pé no acelerador.

Referências Conexas

BARBOSA, Lívia; CAMPBELL, Colin. Cultura, consumo e identidade. Rio de Janeiro: Editora da FGV, 2006.

MARIN, Letícia; QUEIROZ, Marcos S. A atualidade dos acidentes de trânsito na era da velocidade: uma visão geral. Cadernos de Saúde Pública, v. 16, n. 1, p. 7-21, 2000.

terça-feira, 9 de novembro de 2010

Boicote à Harrods


A Harrods é uma das maiores referências mundiais em lojas de departamentos. Suas origens remontam ao século XIX. Nos dias de hoje possui mais de 300 departamentos e é a única loja de departamentos da Inglaterra que continua a vender roupas e casacos que têm pele de animal como matéria-prima. Ativistas do movimento contra a matança de animais costumam portar cartazes e fazer protestos em frente à Harrods conclamando as pessoas a promoverem boicote e não comprarem nenhum produto na Harrods até que ela interrompa a venda desses produtos. Por enquanto, ainda não conseguiram sucesso. Certamente, menos por seus esforços e mais pelo fato de que ainda existem consumidores para esse tipo de produto. E não são consumidores de baixa renda ou analfabetos!

Obs.: a foto acima, onde é possível se observar pessoas portando cartazes contra a matança de animais, é de uma entrada lateral da loja de departamento Harrods, em Brompton Road, Londres, Inglaterra.

Esse post compõe uma série chamada “Nota de Viagem”. Trata-se de um conjunto de pequenas observações realizadas durante viagens.

domingo, 7 de novembro de 2010

Você não pode emprestar seu e-book

Uma das boas coisas que o livro impresso em papel proporciona é a possibilidade de compartilhá-lo com alguém por meio do simples ato do empréstimo. Às vezes, por restrição orçamentária de uma das partes, como diriam os economistas, às vezes pelo prazer de dividir impressões ou, ainda, para promover uma transferência de significados, entre outras razões, o empréstimo de livros sempre representou uma possibilidade de interação entre as pessoas. Com o e-book, pelo menos a princípio, essa interação não existe!

A indústria em torno dos e-Readers e e-books entende que pode acontecer com os arquivos eletrônicos dos e-books o mesmo que tem acontecido com os arquivos de músicas obtidos por meio da internet: uma cópia em proporções incontroláveis e a praticamente certa redução ou mesmo perda da venda dos e-books. Desse modo, cria um mecanismo que impede que o e-book comprado e adicionado a um determinado e-Reader possa ser compartilhado, acessado e lido por um usuário de um outro e-Reader.

O argumento recai sobre os direitos autorais, mas a indústria preocupa-se mais com os seus ganhos, enquanto indústria, do que efetivamente com a propriedade intelectual das obras comercializadas. Os direitos autorais terminam por representar o componente chamado de politicamente correto no discurso feito para o mercado consumidor e para as agências governamentais em torno da necessidade de se evitar o compartilhamento.

A Amazon, que entre as empresas que comercializam e-Readers, é aquela que mais sucesso teve até agora, decidiu recentemente que os seus clientes poderão emprestar os e-books que possuem baseados em seus aplicativos. O detalhe é que tal empréstimo só poderá ocorrer apenas uma vez e por um período de no máximo 14 dias. Para piorar, nem todos os e-books poderão ser emprestados. Isso ainda dependerá de uma avaliação e disponibilização por parte dos agentes do mercado editorial relacionado aos e-books.

Os usuários de e-Readers podem até pagar menos pelo acesso ao conteúdo de um livro, na forma de e-book, bem como podem desfrutar de mobilidade e, ainda, encontrarem uma extrema facilidade em armazená-los, dispensando estantes, prateleiras e espaço físico em geral. Por outro lado, não poderão escrever seus nomes em seus livros e datá-los de próprio punho, assim como não poderão fazer sublinhados, setas, asteriscos, observações ou notas de leitura no canto da página. Mais ainda, não poderão compartilhá-los com quem quiserem e quantas vezes quiserem. Também não poderão doá-los a uma biblioteca se julgarem conveniente. Além disso, se estiverem precisando de dinheiro, não poderão comercializá-los em um sebo. Quanta restrição!

Referências Conexas

DENEGRI-KNOTT Janice; MOLESWORTH, Mike. ‘Love it. Buy it. Sell it’: consumer desire and the social drama of eBay. Journal of Consumer Culture, v. 10, n. 1, p. 56-79, 2010.

FURTADO, José A. O papel e o pixel – do impresso ao digital: continuidade e transformações. Florianópolis: Escritório do Livro, 2004.

McCRACKEN, Grant. Cultura e consumo: uma explicação teórica da estrutura e do movimento do significado cultural dos bens de consumo. Revista de Administração de Empresas, v.47, n.1, p.99-115, 2007.

MILLER, Daniel. The confort of things. Cambridge: Polity Press, 2009.

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Literatura e moda na Cultura

 

Em suas possibilidades de construção textual, a literatura expressa e reflete, a um só tempo, as diversas dimensões da vida cotidiana. Entre elas, estão aquelas relacionadas aos artefatos e indumentárias que diferentes tempos e sociedades usam para vestir os corpos.


O aspecto material dessas indumentárias sinaliza claramente as condições de organização e estrutura produtiva das sociedades, mas é o aspecto simbólico imbricado em tais indumentárias que é capaz de proporcionar uma compreensão mais acurada das sociedades. A literatura, com efeito, captura essa sutileza por meio dos universos e personagens que constrói e reconstrói em diferentes tempos. 



Obs.: as fotos acima são do desfile “Moda e Literatura”, realizado por alunos e professores da FMU na Livraria Cultura, em 22 de outubro de 2010, na cidade de São Paulo, Brasil.

Esse post compõe uma série chamada “Nota de Viagem”. Trata-se de um conjunto de pequenas observações realizadas durante viagens.

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Consumo de professores


Próximo ao dia 15 de outubro, editoras e livrarias enviam cartões virtuais para professores, felicitando-os pela passagem daquele que se convencionou ser o seu dia, isto é, o dia dos professores. A lógica que orienta tal felicitação é meramente comercial e é feita a partir das bases de dados dessas empresas, as quais possuem sistemas de gerenciamento automático de e-mails. Algumas enviam cumprimentos, e outras, além dos cumprimentos, tentam ampliar as vendas dos seus livros. Fazem isso por meio de ofertas com descontos especiais para o dia professor e as consideram um presente!

Curiosa essa situação. Ela mostra de forma bastante simples como os professores são duplamente consumidos: como agentes intermediários do mercado e como o próprio mercado final. No primeiro caso, ao indicarem livros para seus alunos. No segundo, ao adquirirem, eles próprios, livros que são instrumentos de trabalho.

Essa, no entanto, é apenas uma das facetas do consumo de professores. Como trabalhadores do setor de prestação de serviços na sociedade contemporânea, é provável que nunca antes na história os professores tenham sido consumidos com tanta voracidade como nos dias atuais. Afinal, são vários e diversos os papéis por eles assumidos, como, por exemplo, educadores, instrutores, incentivadores, idealizadores, conselheiros, escritores, editores, gestores, orientadores, facilitadores, articuladores, animadores, relatores, revisores ...

Referências Conexas

BASSO, Itacy S. Significado e sentido do trabalho docente. Cadernos CEDES, v.19, n. 44, p. 19-32, 1998.

BELK, Russell. Sharing. Journal of Consumer Research, v. 36, n. 5, p. 715–734, 2010.

FAR, Alessandra E. O livro e a leitura no Brasil. Rio de Janeiro: Zahar, 2006.

VICENTINI, Paula P. Celebração e visibilidade: o dia do professor e diferentes imagens da profissão docente no Brasil (1933-63). In: 26ª REUNIÃO ANUAL DA ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO (2003: Poços de Caldas). Anais ... História da Educação. Rio de Janeiro: ANPED, 2003. (Versão integral no website da ANPED)

terça-feira, 12 de outubro de 2010

A quem interessa o livro digital?

O primeiro livro digital, assim como o primeiro de seus leitores eletrônicos, foi lançado nos Estados Unidos durante os anos 1990. No entanto, foi apenas após o lançamento do leitor eletrônico Kindle pela Amazon.com em 2007, que o livro digital passou a ser conhecido em larga escala.

De lá para cá, o livro digital tem sido celebrado por inúmeras pessoas, em diversas frentes, desde leitores e livreiros até editores e ambientalistas. Mas quem mais festeja a introdução do livro digital no mercado são os fabricantes de e-Readers, isto é, a indústria eletrônica vinculada ao universo da informática e do mundo digital.

Há, hoje, dezenas de modelos de leitores eletrônicos disponíveis no mercado. Só a Sony tem cinco modelos diferentes para venda. Depois que a Amazon.com lançou o seu Kindle, a Barnes & Nobles, outra grande livraria virtual, lançou o seu Nook, e muito recentemente a Apple lançou o iPad. Ocorre que o e-Reader é o tipo de aparelho eletrônico que não envolve uma tecnologia tão sofisticada a ponto de seu fabricante inicial permanecer sozinho no mercado por muito tempo. As barreiras de entrada no mercado de produtos tecnológicos estão cada vez mais fáceis de serem transpostas.

Certamente, os lançamentos continuarão e livrarias virtuais e editoras ainda empreenderão muitos esforços para individualizarem seus produtos e tentarem posicioná-los como únicos no mercado, até, talvez, chegarem a conclusão de que eles poderão ter uma plataforma padrão, em termos de software, que leia qualquer livro digital. Esse “qualquer”, todavia, interessa mais às editoras dos livros digitais do que aos fabricantes de e-Readers e do que às livrarias virtuais. São muitos os desdobramentos em torno dessa questão e passam, inclusive, pela discussão de práticas de monopólio relacionadas a quais softwares serão definidos para serem usados nos aparelhos e-Readers.

No Brasil, os livros digitais começaram a ser vendidos esse ano. Livrarias virtuais como Cultura, Saraiva e Submarino.com já disponibilizam milhares de títulos, especialmente os chamados best sellers e escritos no idioma inglês. Além da diversidade de e-Readers apresentada por essas empresas, e com a qual o leitor deve lidar, há os softwares que podem ser instalados em computadores do tipo notebook ou desktops e que permitem a leitura dos livros digitais.

Como é de se esperar, esses softwares são também diferentes. A Cultura sugere o Adobe Digital Editions e a Saraiva sugere o Saraiva Digital Readers. Já o Submarino.com oferece vários títulos, mas não disponibiliza a possibilidade de acesso ao livro digital que não seja por meio de um e-Reader. Diferentemente da Cultura e da Saraiva, a Submarino.com desenvolveu uma espécie de parceria com a Gato Sabido e-books para a venda de livros digitais, e a oferta dos livros se dá apenas por meio do COLL-ER, seu e-Reader. Surfando a onda dos livros digitais oferecidos pelas nossas livrarias virtuais, a Positivo, fabricante brasileira de computadores, iniciou a produção do seu e-Reader, cujo nome é Alfa.

Argumentos a favor do livro digital costumam ser razoáveis, particularmente aqueles que apontam para a portabilidade e a mobilidade, características da sociedade pós-moderna, bem como os que destacam o fato dos livros digitais poderem ser adquiridos por menores preços e, ainda, não poluírem o meio ambiente, ajudando a preservar milhões de árvores que não precisarão ser utilizadas para a fabricação de papel. Um outro argumento, que não vem muito à baila, diz respeito a obras volumosas, de grande complexidade de manipulação, assim como obras raras, que devem ser transformadas em livros digitais. Tal procedimento seria conveniente e necessário para dar visibilidade e acesso às mesmas.

Olhando para todo esse cenário, algumas impressões, e também dúvidas, vêm à tona:

1. a indústria tende a criar novos produtos para, assim, criar novos mercados e expandir seus negócios. O livro digital e, em contrapartida, o e-Reader, se encaixam perfeitamente bem nesse sentido;

2. com os livros digitais, editoras e livrarias virtuais mudam significativamente a maneira de vender livros e economizam substancialmente ao longo do processo de produção e venda de seus livros. O trabalho com logística, envolvendo gráfica, transporte, estocagem, distribuição e envio para as compras realizadas pela Internet, por exemplo, simplesmente não existe, o que significa expressiva redução do uso de mão-de-obra, instalações e redução de custos;

3. a vida dos autores dos livros melhorará? Eles receberão maior participação dos lucros decorrentes da venda dos livros com o novo formato? Afinal, as editoras poderiam remunerar melhor os autores, pois os seus custos serão reduzidos consideravelmente e o argumento do custo de produção dos livros sempre foi usado para justificar os parcos repasses de direitos autorais aos autores de livros;

4. para onde irão todos os e-Readers que estão sendo vendidos, na hora em que forem descartados? Terão o mesmo destino que os aparelhos de telefone celular, os notebooks e os desktops, ou seja, o lixo comum? Os e-Readers também poluem e são uma ameaça ao meio ambiente. E, diga-se, a indústria de computadores, do mesmo modo que a de telefonia celular, ainda não apresentou uma solução para o descarte de seus produtos;

5. na medida em que a indústria editorial diminui proporcionalmente a venda de livros em papel e aumenta a venda de livros digital, o que será feito com os empregos relacionados à produção e distribuição de livros em papel? Caberá a seus ocupantes a máxima de readaptar, readequar, reutilizar, reciclar?

A quem interessa o livro digital? Muitos argumentos, em um primeiro momento, remetem a uma posição quase que intocável dos livros digitais e, com efeito, é preciso reconhecer o caráter inexorável da sua presença entre nós nos próximos tempos. Não obstante, até o presente momento, quem mais parece ter se beneficiado com os livros digitais são as próprias empresas que compõem a cadeia de negócios em torno dele.

Referências Conexas

BELK, Russel W.; TUMBAT, Gülnur. The cult of Macintosh. Consumption Markets & Culture, v. 8, n. 3, p. 205 – 217, 2005.

CHANDLER, Stephanie. From entrepreneur to infopreneur: make money with books, e-books and information products. Hoboken: Wiley, 2006.

DENEGRI-KNOTT Janice; MOLESWORTH, Mike. Concepts and practices of digital virtual consumption. Consumption Markets & Culture, v. 13, n. 2, p. 109 – 132, 2010.

FRECHETTE, Barry G. Brand digital: simple ways top brands succeed in the digital world. Journal of Consumer Marketing, v. 27, n. 3, p. 293 – 293, 2010.

FURTADO, José A. O papel e o pixel – do impresso ao digital: continuidade e transformações. Florianópolis: Escritório do Livro, 2004.

MILLER, Daniel. The confort of things. Cambridge: Polity Press, 2009.

NEGROPONTE, Nicholas. A vida digital. 3ª. ed. São Paulo: Companhia das Letras, 1995.

VIEIRA, Valter A.; SLONGO, Luiz A. Um modelo dos antecedentes da lealdade no varejo eletrônico. Revista de Administração Contemporânea, v.12, edição especial, p. 65-87, 2008.

WEBER, Steve. ePublish: self-publish fast and profitably for Kindle, iPhone, CreateSpace and print on demand. S.l.: Weber Books, 2009.

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Doações para venda

A compra e venda de produtos usados, em lojas específicas para esse fim, é bastante comum no hemisfério norte. A doação de produtos usados e a posterior venda dos mesmos também é usual, especialmente com finalidades filantrópicas. Em alguns casos, organizações que tem algum tipo de atividade de filantropia chegam ao ponto de fazer apelos para que as pessoas doem aquilo que não usam mais, de modo que o fruto da doação possa ser vendido e revertido em lucros que irão subsidiar ações sem fins lucrativos e de interesse coletivo. Boa parte das pessoas responde bem ao apelo por doações, e outra boa parte tem interesse em comprar os produtos usados que são doados e não se incomoda de incorporá-los ao seu dia-a-dia. A British Heart Foundation, que oferece atividades de prevenção contra doenças cardíacas aos cidadãos da Grã-Bretanha, é uma organização que adota a prática do estímulo de doações de produtos usados e a posterior venda dos mesmos em sua rede de lojas. Sim! Uma instituição de caridade que tem lojas para a venda de produtos – inclusive loja online.

Obs.: a foto acima é da loja da British Heart Foundation localizada na Union Street, considerada a principal referência de negócios da cidade de Aberdeen, Escócia.

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domingo, 3 de outubro de 2010

Cultura da transferência da responsabilidade

A culpa é sempre sua, nunca minha! Essa é uma máxima que se verifica cotidianamente das mais diferentes formas na sociedade brasileira hoje em dia. Nas relações profissionais e mesmo nas relações de caráter pessoal, é possível observar o quanto se transfere para outros a responsabilidade por atos e ações que são sinônimos de problemas, equívocos ou resultados avaliados como negativos.

Exemplos simples desse fenômeno podem ser constatados de diversas maneiras: o gerente nunca é o responsável, o funcionário é que não soube fazer o trabalho; o vendedor não deve ser responsabilizado, o problema é da fábrica que produziu o produto com defeito; o entregador não poderia fazer melhor, o trânsito é que estava horrível; o governador não tem como apresentar uma solução mais adequada, pois a legislação não permite; o deputado não pode fazer algo diferente, dado que a pauta das votações está trancada; o policial não pode implementar adequadamente a lei seca, já que há apenas um bafômetro na cidade; o garçom não pode responder pelo erro no pedido, visto que foi o cozinheiro que não prestou atenção no prato; é possível, sim, agir de uma determinada forma, a interpretação da legislação é que não está correta.

Dito de uma forma simples, é como se houvesse uma condição tácita de que se algo aconteceu de errado, a culpa não é minha; pelo contrário, é dele ou dela. Culturalmente, esse fenômeno parece ter uma relação com a situação de querer estar em vantagem em relação ao outro. Se a responsabilidade é sempre dos outros e nunca de um determinado indivíduo, esse tenderá a estar sempre em uma situação de harmonia com os interlocutores que tem em perspectiva e, por conseguinte, jamais em situações desconfortáveis de conflito. Tem-se, assim, e em tese, uma condição em que o indivíduo está pessoal ou profissionalmente envolvido, mas nunca é responsabilizado.

Esse fenômeno cultural tende a ser recrudescido devido não só ao ambiente cada vez mais competitivo das organizações brasileiras, como também à crescente fragilidade dos vínculos pessoais e profissionais nessas mesmas organizações.

Referências Conexas

BAUMAN, Zygmunt. Modernidade líquida. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2001.

DaMATTA, Roberto A. O que faz o Brasil, Brasil? Rio de Janeiro: Rocco, 1997.

VIEIRA, Francisco. G. D. ; CRUBELLATE, João M.; SILVA, Ilse G. ; SILVA, Wânia. R. Silêncio e omissão: aspectos da cultura brasileira nas organizações. Revista de Administração de Empresas – Eletrônica, v. 1, n. 1, p. 1-14, 2002.

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Empanadas argentinas

Os argentinos amam as praias brasileiras. No verão, um bom número deles vem passear no nosso litoral em busca de dias ensolarados, água morna e diversão. Se eles tem Bariloche, temos praias – especialmente as de Santa Catarina, que tanto admiram. Segundo pesquisa da Embratur, eles são mais de 1 milhão por ano, e gastam cerca de US$ 100.00 por dia. A passagem dos argentinos pelo litoral brasileiro desencadeia um processo peculiar de aculturação. Produtos e serviços oferecidos nas praias de Santa Catarina passam a ter, de algum modo, elementos da cultura argentina. É assim na cidade de Bombinhas, onde as empanadas argentinas são objetos de desejo e procura no chamado happy hour, ou melhor, en la hora feliz.

Obs.: a foto acima é da principal rua de comércio para turistas na Cidade de Bombinhas em Santa Catarina, Brasil, onde se pode observar uma fachada na cor vermelha, no canto esquerdo, em que há uma casa de empanadas argentinas.

Esse post compõe uma série chamada “Nota de Viagem”. Trata-se de um conjunto de pequenas observações realizadas durante viagens.

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Debates presidenciais para consumo

Eles não mudam nada! Algum tempo atrás os debates entre presidenciáveis eram capazes de alterar os rumos de uma campanha, mas hoje em dia perderam essa condição. Servem como um produto adicional das emissoras de TV, dos grandes jornais e portais da Internet. No atual panorama político, os debates mais entretêm do que informam o eleitor, e são mais úteis para os analistas políticos de plantão, que precisam de matéria e conteúdo para movimentar suas discussões, do que para decidir a escolha entre os candidatos a presidente da república.

Os resultados das pesquisas de intenção de voto para presidente, freneticamente divulgados por jornais e TVs, tem revelado a pouca influência dos debates sobre a decisão de votos dos eleitores. A maior parte deles tem o voto definido de forma anterior à realização dos debates e baseada em critérios de escolha que não são alterados pelo conteúdo do debate.

Os debates para presidente da república são eventos nobres, porém tem perdido importância para o eleitor nesse momento. Talvez tivéssemos uma experiência diferente se a agenda da mídia não fosse tão voraz, se as emissoras de TV os exibissem em horários adequados e com menor concorrência na programação, se a militância partidária atual não fosse quase que inexistente, se os candidatos não fossem tão parecidos em suas propostas, e se, especialmente, o presidente Lula, com toda a sua popularidade e avaliação positiva de governo, não estivesse envolvido no processo sucessório.

Referências Conexas

BERNDT, Alexander. Modelo de monitoração das intenções de voto. Revista de Administração (RAUSP), v. 29, n. 2, p. 110-16, 1994.

THIOLLENT, Michel. Pesquisas eleitorais em debate na imprensa. São Paulo: Cortez, 1989.

VEIGA, Luciana F.; SOUZA, Nelson R. de; SANTOS, Sandra A. Debate presidencial: as estratégias de Lula e Alckmin na TV Bandeirantes. Política & Sociedade, n. 10, p. 195-217, 2007.

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Estômago

Pensar a culinária é como pensar a natureza humana. De tão imbricada em nosso cotidiano não nos apercebemos disso. A diferença é que o universo de suas possibilidades é infinito.

O filme Estômago, lançado em 2007, numa co-produção Brasil-Itália, dirigido por Marcos Jorge e que tem o ator João Miguel vivendo Raimundo Nonato, o personagem principal, usa a culinária como fio condutor de uma narrativa sobre o poder na constituição das relações entre as pessoas. Nuances e detalhes em torno da arte de cozinhar são abordados, assim como é centralizado na narrativa o modo como um prato de comida, simples, pode transformar o entorno das pessoas. O filme mostra que não se oferece ou se consome só a comida, mas também as falas, os sentimentos, as interações, as expectativas do outro. As cenas se iniciam em um bar popular, avançam por um restaurante italiano e terminam em uma prisão. Bem filmado, narrado e interpretado, o filme mostra que a culinária pode ser sobrevivência, envolvimento e celebração, mas também pode ser sexo e, sobretudo, poder. Com um especial toque de angostura!

Esse post compõe uma série chamada “Filme”. Trata-se de sugestões de filmes.

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

O espetáculo da solidariedade

A mídia precisa de informações. Consome. A mídia produz informações. Vende. O consumo, no caso, suprimento, é também o produto. Simultaneamente. Simples assim. Em algumas circunstâncias, quanto mais dramático o suprimento, mais dramático ainda é o produto, posto que o suprimento pode ser trabalhado, intensificado, revisado, iluminado, enfim, editado.

Diuturnamente, em maior ou menor proporção, acontecem acidentes, mazelas, desastres, catástrofes. O terremoto ocorrido um mês atrás no norte do Chile, e que deixou 33 mineiros presos sem condições de alcançar a superfície da mina onde trabalhavam, é mais um suprimento ou produto da mídia, a depender do ângulo que para ele se olhe. A novidade é que tais acidentes, infelizmente também passaram a ser vorazmente consumidos pelas chamadas redes sociais de solidariedade.

Embaladas pela mídia, redes de solidariedade de objetivos duvidosos tem sido criadas em torno desse triste episódio chileno. É sempre assim. Muda apenas o lugar, o endereço. Na última sexta-feira circulou uma mensagem por e-mail solicitando a doação de US$ 3.00 para ajudar as famílias dos mineiros da Mina San José no Chile. Aquele ou aquela que fizesse a doação, por meio de transferência ao Banco Santander no Chile, receberia em troca um e-book com o título “Sou Mineiro: o livro da cooperação”. O remetente do e-mail foi a Unicist Goodwill Network do The Unicist Research Institute. É curioso como conseguem o e-mail dos internautas e não dos agentes governamentais e empresariais responsáveis e diretamente envolvidos com o episódio!

Redes sociais de solidariedade tem usado esse expediente; ou seja, doe um determinado valor monetário e receba algo em troca, como um livro ou um objeto qualquer. Até a solidariedade precisa de estímulos em tempos pós-modernos. O acidente com os mineiros do Chile tornou-se um espetáculo a céu aberto.

Referências Conexas

ADORNO, Theodor W. Indústria cultural e sociedade. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2002.

GOMEZ, Sandra L. La subcontratación en la minería en Chile: elementos teóricos para el análisis. Polis, v. 8, n. 24, p. 111-131, 2009.

KILDUFF, Martin; TSAI, Wenpin. Social networks and organizations. London: Sage, 2003.

VERONESE, Marilia V. Sujeito, consumo e solidariedade: as ausências e presenças. E-Compós, v. 11, n.2, p. 1-18, 2008.

domingo, 5 de setembro de 2010

Queijos para todos os gostos

É muito raro encontrar no Brasil alguma loja que venda apenas queijos. Aquelas que mais se aproximam dessa condição, normalmente são chamadas de “casa do queijo” e vendem outros produtos além de queijos. Já em países europeus como a Inglaterra, por exemplo, é possível encontrar lojas especializadas na venda de queijos. Nessas lojas não há outros produtos que não sejam queijos, e de todas as espécies possíveis. De certa maneira, e apenas a título de curiosidade, o baixo consumo de queijo no Brasil, o qual, segundo a ABIQ – Associação Brasileira das Indústrias de Queijo, gira em torno de 3,5 kgs ao ano, ajuda a entender a realidade da estrutura de oferta no nosso país.

Obs.: a foto acima é de uma loja de queijos na Vila de Cartmel, pertencente ao município de Lancashire, região de Lake District, Inglaterra.

Esse post compõe uma série chamada “Nota de Viagem”. Trata-se de um conjunto de pequenas observações realizadas durante viagens.

sábado, 4 de setembro de 2010

Obama não precisa de chá

O sistema financeiro mundial tem sido responsável por grande parte das mazelas e dilemas enfrentados por indivíduos e estados nacionais. A crença reinante é que é preciso protegê-lo a todo e qualquer custo, afinal se trata de algo fundamental para o modelo capitalista: um não existe sem o outro.

A despeito das chamadas livre iniciativa e sociedade civil organizada ou, ainda, da figura supostamente central do consumidor, o sistema financeiro parece não ser incomodado nos períodos de crise. O sabor neoliberal do mercado termina por ser experimentado de modo mais intenso, e quase que exclusivo, por agentes que não estão no centro do sistema.

O argumento preferido e frequentemente veiculado na mídia em geral é que não se pode mexer no sistema financeiro, pois isso afetaria o relacionamento do mesmo com as empresas, as quais, uma vez prejudicadas, perderiam força e seriam obrigadas a demitir funcionários, entre outras ações. O fantasma que se coloca no ar é que caso isso efetivamente aconteça, o mercado será reduzido e causará mais custo e impacto aos estados nacionais. A crença nessa lógica do sistema, de algum modo disseminada como elemento de cultura organizacional, funciona como uma espécie de chantagem ou argumento para a perpetuação de condições que inviabilizam o próprio sistema no longo prazo. Estados nacionais tem ficado reféns dessa situação.

O impacto da última crise do sistema, entretanto, exigiu uma resposta por parte de diferentes estados, os quais, em alguma medida, procuraram preservar as estruturas de consumo – mesmo que essas não prescindam do sistema para o financiamento de suas operações. Dentro dessa tendência, recentemente o governo Obama aprovou uma lei que impede o resgate do sistema financeiro em situações de crise e que procura alterar a dinâmica daquilo que passou a ser o centro simbólico e nevrálgico do sistema financeiro mundial, materializado por Wall Street (curioso esse trocadilho, não? Em uma tradução livre para o português, poderíamos entender Wall Street como “rua de paredes” ou “rua de muros” – muros que limitam, que cerceiam ou que encaixotam dinheiro e possibilidades individuais e de estados nacionais).

Dentro da lógica do mercado estadounidense neoliberal, onde o consumidor supostamente tem uma centralidade singular em relação a outros estados nacionais, a proteção ao consumidor é a justificativa para a criação da lei. No entanto, tendo em vista que é o estado nacional, por meio do seu governo de plantão, que canaliza recursos quase que infindáveis para sanear o sistema, sem que o consumidor seja ouvido, torna-se curioso que no momento de adotar algum tipo de ação contrária ou que minimamente limite o sistema, seja o mesmo consumidor que sirva como argumento central para a ação.

Supõe-se que esse tipo de medida renda alguns dividendos aos políticos, inclusive a Obama. Nem toda a pressão do Tea Party, movimento que tem um perfil extremamente conservador, pretensamente associado aos ideais de fundação dos Estados Unidos contra as crescentes taxações inglesas à época em que eram colônia, e que mantem fortes relações com o partido republicano, é capaz de articular algo contrário. Os outdoors publicados e patrocinados em Iowa comparando Obama a Hitler e a Lênin, não foram suficientes para evitar a ação. Aparentemente, Obama não precisa de chá. Nem mesmo os da cinco, cujo hábito inglês de alguma maneira foi incorporado à cultura estadounidense.

Referências Conexas

DAVIS, Gerald F. Managed by the markets: how finance re-shaped America. Oxford: Oxford University Press, 2009.

FRIED, Joseph. Democrats and republicans - rhetoric and reality: comparing the voters in statistics and anecdotes. New York: Algora Publishing, 2008.

HARVEY, David. A brief history of neoliberalism. Oxford: Oxford University Press, 2005.

KOWARIC, Lúcio. Sobre a vulnerabilidade socioeconômica e civil: Estados Unidos, França e Brasil. Revista Brasileira de Ciências Sociais, v.18, n. 51, p. 61-86, 2003.

STIGLITZ, Joseph E. Obama´s ersatz capitalism. The New York Times, New York, 1 abr. 2009. Op-Editorial, p.2.

YÚDICE, George. A conveniência da cultura: usos da cultura na era global. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2006.

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Preço do estacionamento

As cidades brasileiras experimentam uma grande expansão da oferta de estacionamentos privados. Tal expansão é fruto do considerável aumento da frota de veículos em circulação no país, a qual decorre tanto das políticas governamentais favoráveis à indústria automobilística, quanto das ações de mercado empreendidas por essa indústria. Os preços para se usar estacionamentos no Brasil, contudo, são muito caros. É possível que esses preços reflitam o oportunismo do mercado em relação à “paixão” do brasileiro por carro, assim como é possível que sejam apenas resultado objetivo da expansão da frota ou, ainda, que se vinculem à violência das grandes cidades e suas ameaças, entre elas a depredação e o roubo de automóveis. Apenas a titulo de ilustração, o preço do estacionamento na região de Lake District, Inglaterra, é algo em torno de R$ 2,80 por 4 horas. Em muitas cidades brasileiras, o preço do estacionamento, pelo mesmo tempo, é em média o dobro desse valor. Detalhe: Lake District é considerado o principal parque nacional da Inglaterra, lugar para onde convergem milhares de pessoas durante o verão europeu.


Obs.: a foto acima é do principal estacionamento da Vila de Cartmel, pertencente ao município de Lancashire, região de Lake District, Inglaterra.

Esse post compõe uma série chamada “Nota de Viagem”. Trata-se de um conjunto de pequenas observações realizadas durante viagens.

sábado, 24 de julho de 2010

Bolsas de estudo na pós-graduação e remuneração em atividade profissional

No último dia 16 de julho, foi publicada no Diário Oficial da União (DOU) a Portaria Conjunta Nº 1, relativa ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, que dispõe, em seu Artigo 1º, que “Os bolsistas da CAPES e do CNPq matriculados em programa de pós-graduação no país poderão receber complementação financeira, proveniente de outras fontes, desde que se dediquem a atividades relacionadas à sua área de atuação e de interesse para sua formação acadêmica, científica e tecnológica”. Esse post discute rapidamente o consumo dessa Portaria, relacionando-o à área de administração, em geral, e à área de marketing, em particular.

A publicação dessa Portaria, nesse momento, gera curiosidade porque, entre outras questões, estamos em período eleitoral para os cargos de presidente da república, governador de estado, senador e deputados federais e estaduais. De algum modo, parece que o governo do presidente Lula conseguiu desenvolver uma aproximação para com o mundo acadêmico maior do que aquela conseguida pelo seu antecessor, o presidente Fernando Henrique Cardoso, que paradoxalmente tem a sua origem profissional e militância política relacionadas à universidade enquanto universo institucional. A curiosidade, no entanto, pode ser expressada pela seguinte pergunta: a quem interessa a remuneração por meio de atividades profissionais a bolsistas da CAPES e do CNPq? É possível que interesse ao governo federal, por supostamente qualificar de modo mais rápido pós-graduandos das chamadas áreas duras e engenharias, cuja formação tem sido demandada pelo governo federal visando colocar o país em outro patamar de desenvolvimento tecnológico. Um outro interesse é possível vislumbrar sem muita margem de erro: tal remuneração interessa ao próprio pós-graduando.

No que tange ao segundo interesse, especificamente, a Portaria desperta a atenção por sugerir o consumo da ideia de que é possível estar matriculado em um curso de pós-graduação stricto sensu – assumindo todos os encargos decorrentes dessa ação – , e ao mesmo tempo desenvolver atividades profissionais relacionadas à área de atuação e formação acadêmicas. O consumo dessa ideia resgata e coloca em perspectiva uma enorme teia de questões ainda não resolvidas dentro do sistema de distribuição de bolsas na pós-graduação de um modo geral, em todo o país, e também coloca em perspectiva eventuais assimetrias dos próprios programas de pós-graduação, individualmente.

Logo de saída, a distribuição de bolsas traz em si o dilema de se adotar critérios de desempenho ou critérios sócio-econômicos. Alguns alunos não atendem os critérios sócio-econômicos, que via de regra prevalecem nos diferentes programas, mas têm desempenho superior àqueles que atendem tais critérios e, portanto, sentem-se injustiçados por não desfrutarem de bolsas. Esse sentimento é ainda mais forte entre alunos que não possuem bolsa, exercem atividades profissionais fora do curso de pós-graduação e ainda conseguem desempenho superior àqueles que são bolsistas.

Seria bom avaliar, sim, o aluno também pelo seu desempenho. Antes, porém, é preciso criar condições para que esse aluno tenha possibilidade efetiva de ter bom desempenho. Caso contrário, trataremos de forma igual os desiguais. Como o desempenho do aluno não é resultado de um único fator, ou seja, o fator individual, outras diferentes questões e aspectos, a exemplo não só de condição sócio-econômica, mas também de infra-estrutura e clima organizacional dos programas de pós-graduação, precisariam ser contemplados na análise.

Os critérios sócio-econômicos servem como uma diretriz, mas a bolsa também é vista como um prêmio para o aluno que se dedica em tempo integral e está integrado ao programa de pós-graduação. Infelizmente, contudo, isso não impede que ela possa ser usada politicamente dentro dos programas, seja para distribuição a alunos já conhecidos, por meio de efeito endógeno, seja para distribuição a alunos que são orientados por professores que estão mais próximos ao centro de poder dos programas, por meio de órgãos colegiados ou coordenações.

Apontar limites e encontrar problemas no sistema é sempre mais simples do que encontrar soluções efetivas para o mesmo e, mais que isso, conseguir implantá-las. Aparentemente, todos concordam que a distribuição de bolsas para alunos de pós-graduação não é exatamente uma tarefa considerada fácil nos programas de pós-graduação.

Posto isso, algumas breves considerações adicionais são aqui feitas. A primeira delas é que a exceção não faz a regra. Há alunos de pós-graduação na área de administração, que são, de fato, bastante produtivos, considerando-se o que se convencionou chamar como produtivo em termos de pontuação para o sistema Qualis da CAPES. Todavia, se os alunos publicam não é porque o fazem de forma natural, e sim porque o sistema os induz. Isso se dá, por exemplo, tanto por meio dos professores das disciplinas dos cursos, quanto por meio dos orientadores de teses e dissertações nesses cursos. No primeiro caso, solicitam papers ao final das disciplinas como forma de avaliação e também de oportunidade para o exercício acadêmico de síntese e problematização de conteúdos. No segundo caso, porque, no processo de orientação e interação com seus orientandos, avaliam como salutar a redação de papers oriundos das teses e dissertações, seja como uma forma de amadurecer o trabalho de pesquisa, seja como modo de ampliar a capacitação dos seus orientandos. Evidentemente, professores e orientadores se beneficiam com esse processo, especialmente devido ao exercício da co-autoria nos papers publicados. Não obstante, é preciso lembrar que isso decorre de orientações oriundas das coordenações dos programas de pós-graduação, as quais, em última instância, atendem à demanda das agências de fomento e avaliação. Afinal, os programas precisam ser avaliados e as próprias agências atribuem peso importante à interação entre alunos e professores no processo de publicação de papers. Apenas para pontuar, é importante lembrar que essa discussão se desdobra em torno de argumentos bastante eloqüentes de que parte substancial da publicação brasileira em administração, inclusive dos papers aqui mencionados, pouco acrescenta e apenas repete sinais e modelos antes publicados no hemisfério norte.

Um das faces do problema é que as agências brasileiras se espelham no que está fora. A área de administração, por sua vez, espelha-se nas chamadas áreas duras, que têm outra realidade quanto aos seus objetos de estudo e outra dinâmica quanto à publicação dos seus resultados de pesquisa, estando, ademais, à frente da área de administração. Faz-se referência aqui à condição de que estão à frente da administração em geral, pois a área de marketing, em particular, muitas vezes é vista com reservas pela chamada academia no Brasil. Para tanto, basta observar, por exemplo, a distância que existe entre a área de organizações e a área de marketing no Brasil. Isso, sem mencionar a diferença do nível de inserção nas agências de fomento e avaliação, capacidade de articulação política ou defesa dos interesses e criação de estrutura de trabalho e veículos de publicação na, da e para a área.

Aparentemente, é muito raro se fazer doutorado no hemisfério norte e trabalhar ao mesmo tempo. Simplesmente, o modelo é outro. Para os praticantes, para quem está inserido no mercado, existem outras modalidades de curso. Isso deveria ser levado em consideração pelas agências quando resolvem, por exemplo, copiar de modo oblíquo exigências relacionadas à produção acadêmica.

Na década de 1980 e até início da década de 1990, muitas dissertações em administração, em geral, eram verdadeiras teses de doutorado. É simples verificar isso: basta cotejar uma dissertação produzida naqueles anos com uma tese de doutorado produzida nos anos 2000. Certamente haverá mais semelhanças que diferenças.

Se, em nível de doutorado, é possível estudar e trabalhar ao mesmo tempo, há alguma coisa errada com a qualidade do curso, com a qualidade da tese de doutorado ou com a qualidade do trabalho desenvolvido profissionalmente.

Referências Conexas

FARIA, Alexandre de A. Crítica e cultura em marketing: repensando a disciplina. Cadernos EBAPE.BR, v. 4, n. 3, p. 1-16, 2006.

MELLO, Cristiane M. de; CRUBELLATE, João M.; ROSSONI, Luciano. Dinâmica de relacionamento e prováveis respostas estratégicas de programas brasileiros de pós-graduação em Administração à avaliação da CAPES: proposições institucionais a partir da análise de redes de co-autorias. Revista de Administração Contemporânea, v. 14, n. 3, p. 434-457, 2010.

VELLOSO, Jacques. Mestres e doutores no país: destinos profissionais e políticas de pós-graduação. Cadernos de Pesquisa, v. 34, n. 123, p. 583-611, 2004.

VIEIRA, Francisco G. D. Panorama acadêmico-científico e temáticas de marketing no Brasil. In: XXIV ENCONTRO ANUAL DA ASSOCIAÇÃO NACIONAL DOS PROGRAMAS DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO (2000: Florianópolis). Anais ... Marketing. Rio de Janeiro: ANPAD, 2000. (Versão integral em CD-ROM do Evento)

VIEIRA, Francisco G. D. Latindo atrás do Lattes, Revista Espaço Acadêmico, v. 7, n. 73, junho/2007. (revista eletrônica: http://www.espacoacademico.com.br/073/73vieira.htm)

sexta-feira, 23 de julho de 2010

Fiesta para eles primeiro, depois para os outros

Há várias décadas, a indústria automobilística adota o procedimento de lançar os novos modelos de seus carros de forma diferenciada. Alguns modelos são lançados de forma simultânea e mundial, mesmo que sob marcas diferentes pertencentes a uma mesma empresa. Outros modelos são lançados primeiro na Europa, América do Norte, Ásia ou Oceania, para só depois lançá-los na América do Sul, América Central ou na África. Esse é o caso do Fiesta, veículo produzido pela Ford. Ele é comercializado na Europa em uma versão ou modelo mais recente que aquele hoje encontrado no mercado brasileiro. A lógica de mercado que orienta as ações da indústria automobilística certamente não é a mesma que orienta as expectativas de consumo dos usuários dos seus veículos.

Esse post compõe uma série chamada “Nota de Viagem”. Trata-se de um conjunto de pequenas observações realizadas durante viagens.

quinta-feira, 22 de julho de 2010

O falso rigor inglês

Durante anos, talvez décadas ou mesmo séculos, a Inglaterra construiu uma imagem de rigor, pontualidade e precisão perante a opinião pública mundial. Tal imagem tornou-se admirada de diferentes maneiras e se constituiu em uma das referências da cultura inglesa. No ocidente, talvez ela tenha rivalizado apenas com as culturas germânica e, possivelmente, a suíça – que ademais, tem muito em comum.

A imagem de tal rigor, contudo, não encontra sustentação em fatos ocorridos na última década. O envolvimento inglês na guerra do Iraque e a morte de Jean Charles de Menezes decorrente de ação empreendida pela polícia londrina na estação de Stockwell do metrô de Londres, são exemplos claros dessa situação. No primeiro caso, o primeiro-ministro Tony Blair nunca conseguiu justificar o envolvimento da Inglaterra na referida guerra. Já no segundo caso, e até o dia de hoje, quando são completados cinco anos da morte de Jean Charles, nenhum dos envolvidos foi responsabilizado criminalmente perante a justiça inglesa.

Os eventos de 11 de setembro de 2001, e outros que deles foram decorrentes, funcionaram como vetores para a mudança de hábitos, valores e padrões de ação de estados nacionais. Os fatos acima mencionados até podem ser traduzidos como desdobramentos desses eventos. Mas não é só isso.

Fenômenos sociais certamente promovem mudanças culturais individuais e institucionais. Não obstante, o que ocorreu e, pior, ainda tem ocorrido em torno da morte de Jean Charles, é meramente uma tentativa de gerenciamento de impressões de um rigor inglês que é coisa do passado.

Referências Conexas

CHOSSUDOVSKY, Michel. Guerra e globalização: antes e depois de 11 de setembro de 2001. São Paulo: Expressão Popular, 2004.

FIRAT, Fuat; VENKATESH, Alladi. Liberatory postmodernism and the reenchantment of consumption. Journal of Consumer Research, v. 22, n. 3, p. 239-267, 1995.

MENDONÇA, J. Ricardo C. de; AMANTINO-DE-ANDRADE, Jackeline. Gerenciamento de impressões: em busca da legitimidade organizacional. Revista de Administração de Empresas, v. 43, n. 1, p. 36-48, 2003.

REINER, Robert. A política da polícia. São Paulo: Editora da USP, 2004.

SCOTT, W. Richard. Unpacking institutional arguments. In: POWELL, Walter; DiMAGGIO, Paul (Ed.). The new institutionalism in organizational analysis. Chigaco: University of Chigaco Press, 1991. p.164-82.

VAUGHAN-WILLIAMS, Nick. The shooting of Jean Charles de Menezes: new border politics? Alternatives: Global, Local, Political, v. 32, n. 2, p. 177-195, 2007.

quarta-feira, 21 de julho de 2010

Para a boca e para os olhos

A cultura da jardinagem, bastante difundida entre os ingleses, é levada por meio de várias possibilidades para as relações de consumo. É o caso, por exemplo, de uma simples estrutura de varejo como uma padaria, que pode ser transformada em um espaço que traz prazer para diferentes sentidos do corpo.

Obs.: a foto acima é da “The Apple Pie, Cafe & Bakery”, Rydal Road, Ambleside, Inglaterra.

Esse post compõe uma série chamada “Nota de Viagem”. Trata-se de um conjunto de pequenas observações realizadas durante viagens.

terça-feira, 20 de julho de 2010

A moda no corpo e o corpo na moda

O corpo deixou de ser somente o corpo há muitos e muitos anos. Nunca o corpo foi tanto uma forma de expressão e definição de identidade como nos últimos anos. O movimento em torno da aeróbica e das academias de ginástica que se popularizou no Brasil nos anos 1980 foi apenas o início daquilo que a realidade brasileira dos trópicos seria capaz de absorver, produzir e reproduzir culturalmente. O sentido de despojamento e de deixa estar do movimento hippie e da geração do final dos anos 1960 e início dos anos 1970, preocupadas mais com os rumos da sociedade e da política, estão demasiadamente longe e seus sons praticamente não produzem mais nenhum eco nos dias atuais.

A linguagem estética atual inclui o corpo e as diferentes possibilidades de expressão por meio dele. Gravar imagens, redefinindo e reconstruindo uma estética corporal de forma quase que ilimitada a partir de uma escrita própria ou que repete uma definição anterior forjada em laboratórios e salas de designers da indústria da moda parece ser uma tendência crescente. Além das tatuagens, as novas e mais recentes possibilidades de gravação de imagens no corpo incluem o bronzeamento por meio de formas vazadas em biquínis ou maiôs. O próximo verão promete.

Referências Conexas

ARAUJO, Leusa. Tatuagem, piercing, e outras mensagens do corpo. São Paulo: Cosac Naify, 2006.

MIGUELES, Carmen. Antropologia do consumo: casos brasileiros. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2007.

SANDERS, Clinton R.; VAIL, D. Angus. Customizing the body: the art and culture of tattoing. Philadelphia: Temple University Press, 2008.

segunda-feira, 19 de julho de 2010

Estão todos bem

Originalmente “Stanno Tutti Bene”, fruto de um produção franco-italiana de 1990, estrelada por Marcello Mastroianni e dirigido por Giuseppe Tornatore, “Estão Todos Bem”, refilmagem com produção estadounidense de 2009, dirigido por Kirk Jones e estrelado por Robert De Niro, é um filme que aborda mais do que simplesmente os limites da relação entre um pai e seus filhos, a qual era fundamentalmente intermediada por uma esposa (no caso a mãe) que faleceu. Em que pese a sua perspectiva ser definida a partir da sociedade estadounidense, o que poderia implicar em um estereótipo, o filme trata dos papéis e identidades que os indivíduos constroem para e em suas vidas como decorrência das relações, valores, espaços físicos e sistemas sociais em que estão inseridos. A construção de representações perante a expectativa do outro também é enfocada, e não tem a mínima relação com um possível sentido de alteridade, restringe-se aos limites das relações familiares. De forma menos explícita, porém, trata dos significados que são tecidos e que tanto aproximam quanto afastam os indivíduos em suas relações pessoais, familiares ou não.

Esse post compõe uma série chamada “Filme”. Trata-se de sugestões de filmes.

domingo, 18 de julho de 2010

Café para um futuro sustentável

Os copos do café servido nos trens da Virgin, companhia inglesa que opera em inúmeros setores, inclusive o de trens, serve a dois propósitos: um de acondicionar o café a ser bebido e o outro de posicionar o produto junto aos usuários do serviço da companhia. O posicionamento se dá por meio da exibição de uma logomarca de fairtrade impressa de forma vistosa no copo, junto a qual se lê a informação da existência de melhores acordos de compra e venda para os produtores do café. Tais produtores, no caso, são colombianos e enquadram-se naquilo que nos anos 1950 convencionou-se chamar de terceiro mundo. O que mais desperta a atenção, contudo, não é o apelo de fairtrade contido na embalagem do café, e que é chancelado pela Fairtrade Foundation, uma Organização Não-Governamental do Reino Unido, mas sim a sugestão de que o consumo daquele café, em específico, representa a chance de um futuro sustentável!

Esse post compõe uma série chamada “Nota de Viagem”. Trata-se de um conjunto de pequenas observações realizadas durante viagens.