quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Empanadas argentinas

Os argentinos amam as praias brasileiras. No verão, um bom número deles vem passear no nosso litoral em busca de dias ensolarados, água morna e diversão. Se eles tem Bariloche, temos praias – especialmente as de Santa Catarina, que tanto admiram. Segundo pesquisa da Embratur, eles são mais de 1 milhão por ano, e gastam cerca de US$ 100.00 por dia. A passagem dos argentinos pelo litoral brasileiro desencadeia um processo peculiar de aculturação. Produtos e serviços oferecidos nas praias de Santa Catarina passam a ter, de algum modo, elementos da cultura argentina. É assim na cidade de Bombinhas, onde as empanadas argentinas são objetos de desejo e procura no chamado happy hour, ou melhor, en la hora feliz.

Obs.: a foto acima é da principal rua de comércio para turistas na Cidade de Bombinhas em Santa Catarina, Brasil, onde se pode observar uma fachada na cor vermelha, no canto esquerdo, em que há uma casa de empanadas argentinas.

Esse post compõe uma série chamada “Nota de Viagem”. Trata-se de um conjunto de pequenas observações realizadas durante viagens.

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Debates presidenciais para consumo

Eles não mudam nada! Algum tempo atrás os debates entre presidenciáveis eram capazes de alterar os rumos de uma campanha, mas hoje em dia perderam essa condição. Servem como um produto adicional das emissoras de TV, dos grandes jornais e portais da Internet. No atual panorama político, os debates mais entretêm do que informam o eleitor, e são mais úteis para os analistas políticos de plantão, que precisam de matéria e conteúdo para movimentar suas discussões, do que para decidir a escolha entre os candidatos a presidente da república.

Os resultados das pesquisas de intenção de voto para presidente, freneticamente divulgados por jornais e TVs, tem revelado a pouca influência dos debates sobre a decisão de votos dos eleitores. A maior parte deles tem o voto definido de forma anterior à realização dos debates e baseada em critérios de escolha que não são alterados pelo conteúdo do debate.

Os debates para presidente da república são eventos nobres, porém tem perdido importância para o eleitor nesse momento. Talvez tivéssemos uma experiência diferente se a agenda da mídia não fosse tão voraz, se as emissoras de TV os exibissem em horários adequados e com menor concorrência na programação, se a militância partidária atual não fosse quase que inexistente, se os candidatos não fossem tão parecidos em suas propostas, e se, especialmente, o presidente Lula, com toda a sua popularidade e avaliação positiva de governo, não estivesse envolvido no processo sucessório.

Referências Conexas

BERNDT, Alexander. Modelo de monitoração das intenções de voto. Revista de Administração (RAUSP), v. 29, n. 2, p. 110-16, 1994.

THIOLLENT, Michel. Pesquisas eleitorais em debate na imprensa. São Paulo: Cortez, 1989.

VEIGA, Luciana F.; SOUZA, Nelson R. de; SANTOS, Sandra A. Debate presidencial: as estratégias de Lula e Alckmin na TV Bandeirantes. Política & Sociedade, n. 10, p. 195-217, 2007.

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Estômago

Pensar a culinária é como pensar a natureza humana. De tão imbricada em nosso cotidiano não nos apercebemos disso. A diferença é que o universo de suas possibilidades é infinito.

O filme Estômago, lançado em 2007, numa co-produção Brasil-Itália, dirigido por Marcos Jorge e que tem o ator João Miguel vivendo Raimundo Nonato, o personagem principal, usa a culinária como fio condutor de uma narrativa sobre o poder na constituição das relações entre as pessoas. Nuances e detalhes em torno da arte de cozinhar são abordados, assim como é centralizado na narrativa o modo como um prato de comida, simples, pode transformar o entorno das pessoas. O filme mostra que não se oferece ou se consome só a comida, mas também as falas, os sentimentos, as interações, as expectativas do outro. As cenas se iniciam em um bar popular, avançam por um restaurante italiano e terminam em uma prisão. Bem filmado, narrado e interpretado, o filme mostra que a culinária pode ser sobrevivência, envolvimento e celebração, mas também pode ser sexo e, sobretudo, poder. Com um especial toque de angostura!

Esse post compõe uma série chamada “Filme”. Trata-se de sugestões de filmes.

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

O espetáculo da solidariedade

A mídia precisa de informações. Consome. A mídia produz informações. Vende. O consumo, no caso, suprimento, é também o produto. Simultaneamente. Simples assim. Em algumas circunstâncias, quanto mais dramático o suprimento, mais dramático ainda é o produto, posto que o suprimento pode ser trabalhado, intensificado, revisado, iluminado, enfim, editado.

Diuturnamente, em maior ou menor proporção, acontecem acidentes, mazelas, desastres, catástrofes. O terremoto ocorrido um mês atrás no norte do Chile, e que deixou 33 mineiros presos sem condições de alcançar a superfície da mina onde trabalhavam, é mais um suprimento ou produto da mídia, a depender do ângulo que para ele se olhe. A novidade é que tais acidentes, infelizmente também passaram a ser vorazmente consumidos pelas chamadas redes sociais de solidariedade.

Embaladas pela mídia, redes de solidariedade de objetivos duvidosos tem sido criadas em torno desse triste episódio chileno. É sempre assim. Muda apenas o lugar, o endereço. Na última sexta-feira circulou uma mensagem por e-mail solicitando a doação de US$ 3.00 para ajudar as famílias dos mineiros da Mina San José no Chile. Aquele ou aquela que fizesse a doação, por meio de transferência ao Banco Santander no Chile, receberia em troca um e-book com o título “Sou Mineiro: o livro da cooperação”. O remetente do e-mail foi a Unicist Goodwill Network do The Unicist Research Institute. É curioso como conseguem o e-mail dos internautas e não dos agentes governamentais e empresariais responsáveis e diretamente envolvidos com o episódio!

Redes sociais de solidariedade tem usado esse expediente; ou seja, doe um determinado valor monetário e receba algo em troca, como um livro ou um objeto qualquer. Até a solidariedade precisa de estímulos em tempos pós-modernos. O acidente com os mineiros do Chile tornou-se um espetáculo a céu aberto.

Referências Conexas

ADORNO, Theodor W. Indústria cultural e sociedade. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2002.

GOMEZ, Sandra L. La subcontratación en la minería en Chile: elementos teóricos para el análisis. Polis, v. 8, n. 24, p. 111-131, 2009.

KILDUFF, Martin; TSAI, Wenpin. Social networks and organizations. London: Sage, 2003.

VERONESE, Marilia V. Sujeito, consumo e solidariedade: as ausências e presenças. E-Compós, v. 11, n.2, p. 1-18, 2008.

domingo, 5 de setembro de 2010

Queijos para todos os gostos

É muito raro encontrar no Brasil alguma loja que venda apenas queijos. Aquelas que mais se aproximam dessa condição, normalmente são chamadas de “casa do queijo” e vendem outros produtos além de queijos. Já em países europeus como a Inglaterra, por exemplo, é possível encontrar lojas especializadas na venda de queijos. Nessas lojas não há outros produtos que não sejam queijos, e de todas as espécies possíveis. De certa maneira, e apenas a título de curiosidade, o baixo consumo de queijo no Brasil, o qual, segundo a ABIQ – Associação Brasileira das Indústrias de Queijo, gira em torno de 3,5 kgs ao ano, ajuda a entender a realidade da estrutura de oferta no nosso país.

Obs.: a foto acima é de uma loja de queijos na Vila de Cartmel, pertencente ao município de Lancashire, região de Lake District, Inglaterra.

Esse post compõe uma série chamada “Nota de Viagem”. Trata-se de um conjunto de pequenas observações realizadas durante viagens.

sábado, 4 de setembro de 2010

Obama não precisa de chá

O sistema financeiro mundial tem sido responsável por grande parte das mazelas e dilemas enfrentados por indivíduos e estados nacionais. A crença reinante é que é preciso protegê-lo a todo e qualquer custo, afinal se trata de algo fundamental para o modelo capitalista: um não existe sem o outro.

A despeito das chamadas livre iniciativa e sociedade civil organizada ou, ainda, da figura supostamente central do consumidor, o sistema financeiro parece não ser incomodado nos períodos de crise. O sabor neoliberal do mercado termina por ser experimentado de modo mais intenso, e quase que exclusivo, por agentes que não estão no centro do sistema.

O argumento preferido e frequentemente veiculado na mídia em geral é que não se pode mexer no sistema financeiro, pois isso afetaria o relacionamento do mesmo com as empresas, as quais, uma vez prejudicadas, perderiam força e seriam obrigadas a demitir funcionários, entre outras ações. O fantasma que se coloca no ar é que caso isso efetivamente aconteça, o mercado será reduzido e causará mais custo e impacto aos estados nacionais. A crença nessa lógica do sistema, de algum modo disseminada como elemento de cultura organizacional, funciona como uma espécie de chantagem ou argumento para a perpetuação de condições que inviabilizam o próprio sistema no longo prazo. Estados nacionais tem ficado reféns dessa situação.

O impacto da última crise do sistema, entretanto, exigiu uma resposta por parte de diferentes estados, os quais, em alguma medida, procuraram preservar as estruturas de consumo – mesmo que essas não prescindam do sistema para o financiamento de suas operações. Dentro dessa tendência, recentemente o governo Obama aprovou uma lei que impede o resgate do sistema financeiro em situações de crise e que procura alterar a dinâmica daquilo que passou a ser o centro simbólico e nevrálgico do sistema financeiro mundial, materializado por Wall Street (curioso esse trocadilho, não? Em uma tradução livre para o português, poderíamos entender Wall Street como “rua de paredes” ou “rua de muros” – muros que limitam, que cerceiam ou que encaixotam dinheiro e possibilidades individuais e de estados nacionais).

Dentro da lógica do mercado estadounidense neoliberal, onde o consumidor supostamente tem uma centralidade singular em relação a outros estados nacionais, a proteção ao consumidor é a justificativa para a criação da lei. No entanto, tendo em vista que é o estado nacional, por meio do seu governo de plantão, que canaliza recursos quase que infindáveis para sanear o sistema, sem que o consumidor seja ouvido, torna-se curioso que no momento de adotar algum tipo de ação contrária ou que minimamente limite o sistema, seja o mesmo consumidor que sirva como argumento central para a ação.

Supõe-se que esse tipo de medida renda alguns dividendos aos políticos, inclusive a Obama. Nem toda a pressão do Tea Party, movimento que tem um perfil extremamente conservador, pretensamente associado aos ideais de fundação dos Estados Unidos contra as crescentes taxações inglesas à época em que eram colônia, e que mantem fortes relações com o partido republicano, é capaz de articular algo contrário. Os outdoors publicados e patrocinados em Iowa comparando Obama a Hitler e a Lênin, não foram suficientes para evitar a ação. Aparentemente, Obama não precisa de chá. Nem mesmo os da cinco, cujo hábito inglês de alguma maneira foi incorporado à cultura estadounidense.

Referências Conexas

DAVIS, Gerald F. Managed by the markets: how finance re-shaped America. Oxford: Oxford University Press, 2009.

FRIED, Joseph. Democrats and republicans - rhetoric and reality: comparing the voters in statistics and anecdotes. New York: Algora Publishing, 2008.

HARVEY, David. A brief history of neoliberalism. Oxford: Oxford University Press, 2005.

KOWARIC, Lúcio. Sobre a vulnerabilidade socioeconômica e civil: Estados Unidos, França e Brasil. Revista Brasileira de Ciências Sociais, v.18, n. 51, p. 61-86, 2003.

STIGLITZ, Joseph E. Obama´s ersatz capitalism. The New York Times, New York, 1 abr. 2009. Op-Editorial, p.2.

YÚDICE, George. A conveniência da cultura: usos da cultura na era global. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2006.