sexta-feira, 26 de agosto de 2011

A popularização dos cruzeiros marítimos

Durante muitos anos, cruzeiros marítimos foram sinônimo de glamour e algo de difícil acesso para pessoas mortais e comuns. Em geral, evocavam imagens do Caribe e do Mediterrâneo ou mesmo da Europa e da Oceania. Concebê-los ao longo da costa marítima brasileira era algo incomum.

Hoje, ocorre o contrário. A indústria de viagens de turismo, entretenimento e lazer (re)descobriu que o litoral brasileiro tem uma extensão de mais 7.000 km e que pode ser explorada em viagens de norte a sul e de sul a norte. Percebeu, também, que como o Brasil está próximo ao Uruguai e à Argentina, é possível se oferecer cruzeiros internacionais a um custo operacional semelhante àqueles oferecidos ao longo da costa brasileira.

O resultado é que os cruzeiros passaram a ser oferecidos e consumidos em proporção jamais vista no nosso país. A facilidade do pagamento por meio de inúmeras parcelas, e o apoio de extensa rede de agências e escritórios de turismo Brasil afora, contribuíram para a expansão da realização de cruzeiros marítimos. Esse fenômeno só não é maior porque a infra-estrutura dos portos brasileiros não ajuda muito e os custos envolvidos na realização de cruzeiros no Brasil ainda são altos.

É bem provável que com o passar do tempo os cruzeiros sejam ofertados em maior escala e com maior número de opções, ampliando rotas que envolvam, por exemplo, um percurso entre o nordeste e o norte brasileiros, ou entre essas duas regiões e o Caribe. O contexto de consumo é favorável, a indústria está mais articulada e o mar parece exercer um fascínio ímpar no imaginário das pessoas.

Referências Conexas

BRITO, Telma M.; BRUHNS, Heloisa T. Corpo, lazer e natureza: uma reflexão sobre os cruzeiros marítimos. Turismo em Análise, v. 19, n. 1, p. 126-136, 2008.

RABAHY, Wilson A.; KADOTA, Décio K. Caracterização da demanda das viagens de cruzeiros marítimos no Brasil. Revista Turismo em Números, n. 53, p. 1-8, 2006.

WOOD, Robert E. Caribbean cruise tourism: Globalization at sea. Annals of Tourism Research, v. 27, n. 2, p. 345-370, 2000.

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Morango no verão (do norte)

No Brasil, especialmente na região sul, é frequente o consumo de morango durante o inverno. Várias padarias, casas de lanche, cafés e chocolatarias, em especial, oferecem doces e sobremesas com morango. A propósito, é bem possível que a combinação mais usada seja a de morango com chocolate, particularmente em tortas.

No hemisfério norte, o morango é usado ao longo de todo o ano, mas é mais consumido no verão. Aliás, é muito comum que o morango seja usado como um símbolo dessa estação. É isso que ocorre na Inglaterra, por exemplo, onde o morango tem um destaque especial como ingrediente da culinária do verão.

Obs.: a foto acima é de um anúncio do menu do The Garden Café, localizado no The Regent´s Park, Londres, Inglaterra.

Esse post compõe uma série chamada “Nota de Viagem”. Trata-se de um conjunto de pequenas observações realizadas durante viagens.

terça-feira, 23 de agosto de 2011

A idade invisível

Durante vários anos propagou-se a ideia de que a chamada terceira idade seria maravilhosa e representaria um momento de grande oportunidade para desfrutar aquilo que a vida não permitiu em anos anteriores. Empresas do setor de turismo e hotelaria, por exemplo, criaram pacotes de serviços de lazer e entretenimento para que as pessoas dessa idade tivessem opções sobre como usar o dinheiro de suas aposentadorias. Academias de ginástica e escolas de natação também procuraram prospectar possibilidades de consumo para seus serviços junto a esse público.

Toda essa expectativa e desejo de realização de negócios não se concretizou ou foi efetivada apenas em parte. No Brasil, muitas pessoas da terceira idade sustentam suas famílias com o dinheiro que recebem, incluindo-se aí filhos, genros, noras e netos. A imagem da terceira idade no Brasil não é aquela retratada nas imagens das novelas da TV Globo.

A demografia brasileira tem sofrido forte alteração nos últimos anos e irá se transformar ainda mais. Segundo o relatório Envelhecendo em um Brasil Mais Velho, produzido pelo Banco Mundial, dentro em breve o Brasil será um país de idosos. Conforme estimativa dessa instituição, quase 50% dos habitantes brasileiros possuirá 65 anos ou mais de idade em 2050. Parece algo longínquo. Mas em termos demográficos não é tão remoto assim. A mídia de difusão notifica, nesse sentido, que o Brasil vive o paradoxo de crescer enquanto envelhece.

Empresas e governos (municipal, estadual e federal) não estão preparados para esse fenômeno. São poucos os produtos e serviços efetivamente formatados e oferecidos para a terceira idade. Segundo dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), mais de 10% da população brasileira já possuem 60 anos ou mais de idade e não encontram suporte em ruas, avenidas, rodoviárias ou aeroportos, por exemplo, para sua condição física. A indústria imobiliária, em outro exemplo, continua construindo inúmeros edifícios residenciais que estão a milhas e milhas de distância de oferecerem estrutura compatível para esses pouco mais de 10% da população.

A elaboração de anúncios e a divulgação de produtos posicionados para o consumo por parte da terceira idade, também não parece ser uma opção para as empresas. Ações nesse sentido podem gerar dissonância cognitiva e comprometer a imagem de marcas empresariais ou de linhas específicas de produtos. Pensando bem, como seriam os modelos das propagandas na TV divulgando produtos para o consumo na terceira idade? Certamente, eles se chocariam com a juventude e a modernidade do mundo ocidental.

Por enquanto, a terceira idade é um fenômeno silencioso e quase invisível no Brasil. E isso, mesmo se tratando de consumo!

Referências Conexas

FARIAS, Salomão A. Avaliação simultânea dos determinantes da satisfação do consumidor: um estudo no segmento da terceira idade. São Paulo: USP, 1998. (Tese de Doutorado em Administração)

MATHUR, Anil; MOSCHIS, George P.; LEE, Euhun. A longitudinal study of the effects of life status changes on changes in consumer preferences. Journal of the Academy of Marketing Science, v. 36, n. 2, p. 234-246, 2008.

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Citação de artigos: o paradoxo dos cinco anos

Qual é a lógica que orienta decisões editoriais em que os artigos acadêmico-científicos publicados nos últimos cinco anos são as referências mais importantes para uso em outros artigos que se queira submeter à publicação? Trata-se apenas do conceito definido como estado-da-arte, em que esses artigos trazem o conhecimento em seu estado mais atual, com descobertas e proposições mais recentes?

Os artigos publicados nos últimos cinco anos são, de fato, aqueles mais importantes e consistentes? A contribuição de um artigo tem data marcada para acabar ou prazo de validade, como um produto perecível?

Se a pesquisa que ontem-hoje se fez e que hoje-amanhã se publica não é valorizada por mais do que cinco anos, qual o sentido de fazê-la? Como e com base em quais critérios se definem a consistência e a relevância temporal do conhecimento produzido? O conhecimento publicado em periódicos está fadado ao consumo em um horizonte máximo de meia década? Esse é o limite?

A quem serve tal decisão? Serve aos pesquisadores e autores dos artigos? Alguém lembrou de perguntar qual o papel da indústria editorial para a construção dessa lógica, especialmente o segmento de publicação de periódicos científicos? As instituições de ensino e pesquisa, bem como as agências de fomento à pesquisa têm, também, algo a dizer acerca dessa construção?

Referências Conexas

CANAGARAJAH, A. Suresh. “Nondiscursive” requirements in academic publishing, material resources of periphery scholars, and the politics of knowledge production. Written Communication, v. 13, n. 4, p. 435-472, 1996.

GODIN, Benoit; GINGRAS, Yves. The place of universities in the system of knowledge production. Research Policy, v. 29, n.2, p. 273-278, 2000.

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Games e brinquedos de guerra são desnecessários

A sociedade norueguesa reagiu de uma forma inusitada ao ato mais doloroso de sua história em tempos de paz. Deu no New York Times que agentes do mercado varejista na Noruega, como lojas e supermercados, estão retirando de suas prateleiras videogames e brinquedos de guerra. Trata-se de uma medida em respeito às vítimas dos recentes atentados ocorridos naquele país, dado que o autor dos atentados era usuário assíduo do World of Warcraft. É uma medida não só incomum, como também algo que contraria a indústria do entretenimento e do lazer pessoal e doméstico – indústria em torno da qual são gerados, de forma crescente, bilhões de dólares a cada ano. Com efeito, a Noruega ficará melhor com essa iniciativa. Agentes de mercado em outros países poderiam seguir o exemplo. Especialmente aqueles que tanto apregoam responsabilidade social em práticas de mercado.

Esse post compõe uma série chamada “Web News”. Trata-se de observações realizadas acerca de notícias relacionadas à temática de cultura e consumo publicadas na World Wide Web.

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Onde anda a poesia?

Nos dias de hoje, as editoras fazem pouco ou quase nenhum esforço para publicar poesia. Fácil de constatar. Basta olhar o catálogo de livros das editoras brasileiras e de outros cantos do mundo. Poesia não gera lucro. Livros de poesia não estão nas vitrinas das livrarias. Poetas não produzem bestsellers.

Qual o último livro de poesia que foi lido? Onze entre cada dez pessoas dirá que não lembra. A poesia ficou confinada aos concursos. Está restrita às aulas do ensino básico. Faz parte da linguagem e do universo conhecido como politicamente correto. Compõe a cena, mas ninguém vê, tampouco lê.

Lidar com poesia é ter imaginação, ser sonhador. Coloquialmente, é viver com a cabeça nas nuvens. Algo pejorativo em uma sociedade que reivindica pragmatismo, racionalidade, rapidez, objetividade. Não há interesse em poesia. Escrever poesia é perder tempo. Falar em poesia é soar estranho. Não se consome poesia.

Referências Conexas

MORICONI, Italo. Como e porque ler poesia brasileira do século XX. Rio de Janeiro: Objetiva, 2002.

PETER, Middleton. Distant reading: performance, readership, and consumption in contemporary poetry. Tuscaloosa: University of Alabama Press, 2005.

SHERRY Jr., John F.; SCHOUTEN, John W. A role for poetry in consumer research. Journal of Consumer Research, v. 29, n. 2, p. 218-234, 2002.