terça-feira, 27 de setembro de 2011

Trabalho Interno

O mundo acostumou-se a palavra crise. Habituou-se, também, a palavra mercado. Os mercados dormem, acordam e se agitam. Do mesmo modo, têm humor, reconhecem, valorizam e penalizam. A mídia de difusão trata o mercado como se fosse uma entidade. Os textos de jornais, bem como as falas nas emissoras de rádio e na TV, a ele se referem com o uso de sujeito e predicado.

Crise e mercado são palavras que têm estado juntas. Nos últimos dias, o noticiário tem sido inundado por elas e outras mais, como bolsa de valores, câmbio, dólar, consumo, PIB, produção industrial, emprego, greve, etc. Vive-se em crise.

A propósito, a crise de hoje parece ser a mesma de ontem. É provável que ela apenas tenha se reconfigurado, mudado de lugar e de enredo. Essa suposição ganha sentido assistindo-se o documentário Trabalho Interno (Inside Job, EUA, 2010). Vencedor do Oscar e lançado no Brasil em fevereiro de 2011, esse documentário revela os bastidores da crise financeira mundial de 2008 e deixa pistas de que o problema é indômito!

Dirigido por Charles Ferguson e escrito por ele próprio, juntamente com Chad Beck e Adam Bolt, o documentário é muito bem estruturado e editado. Ao longo de 120 minutos, e guiado pela narração segura de Matt Damon, o espectador se depara com informações estarrecedoras sobre como a crise foi engendrada dentro do próprio sistema financeiro. Depara-se, também, com informações sobre os diferentes atores envolvidos na formação da crise e os desdobramentos que ela traz para a vida de todas as pessoas. Nesse caso, a crise de 2008 não parece ser tão diferente da crise de 2011 ou outras de anos anteriores.

Esse post compõe uma série chamada “Filme”. Trata-se de sugestões de filmes.

domingo, 25 de setembro de 2011

Uma imagem, mil palavras

A expressão do título desse post não é nova, mas permanece forte e com uma rara capacidade de síntese na língua portuguesa. De uma forma brilhante, foram usados quatro chaveiros com chaves de quatro marcas diferentes para compor a logomarca da Audi. A riqueza simbólica da imagem é que ela sugere que a Audi reúne em uma única marca atributos que se encontram diluídos em outras marcas como Alfa Romeo (design), BMW (velocidade), Volvo (segurança) e Mercedes-Benz (tecnologia). Tenta-se, assim, definir uma identidade para consumo sobre, e acima de, outras empresas concorrentes.

Referências Conexas

BARBOSA, Lívia; CAMPBELL, Colin. Cultura, consumo e identidade. Rio de Janeiro: Editora da FGV, 2006.

ELLIOTT, Richard; WATTANASUWAN, Kritsadarant. Brand as symbolic resources for the construction of identity. International Journal of Advertising, v. 17, n.2, p. 131-144, 1998.

sábado, 24 de setembro de 2011

David e Victoria, mas poderia ser Luciano e Angélica

Acaba de ser publicado na Family Business Review o artigo “When David Met Victoria: forging a strong family brand” (FBR, v.24, n.3, p. 217-232, 2011). Escrito por Marie-Agnès Parmentier, o artigo aborda a construção de marcas familiares. Sob um olhar desavisado o artigo pareceria não ter relação com o universo do consumo. Porém, a autora estuda o caso de David e Victoria Beckham, que constituem uma família que envolve diferentes aspectos de consumo simbólico na indústria global de entretenimento e moda. De algum modo, empresas do mundo inteiro buscam casais que possam servir de ícone e emprestar suas imagens para suas marcas, assim como consumidores buscam, mundo afora, mimetizar tais pessoas. No Brasil, isso não é diferente. Um paralelo com os Beckham pode ser feito a partir de Luciano Huck e Angélica, personalidades da televisão brasileira, que não só emprestam seus nomes para consumo, como são, eles próprios, objetos de consumo simbólico.

Esse post compõe uma série chamada “Olhar Acadêmico”. Trata-se de breves observações realizadas sobre trabalhos acadêmicos na forma de artigos, dissertações, teses ou livros relacionados direta ou indiretamente ao campo de cultura e consumo.

domingo, 18 de setembro de 2011

Redução de embalagens

Pouca gente percebe, mas elas continuam acontecendo. A redução de embalagens, em termos de unidades e pesos em produtos comercializados no mercado brasileiro é mais comum do que se pensa. Representam um aumento disfarçado nos preços dos produtos.

Grandes companhias, como a Nestlé, por exemplo, reduzem em até 25% a quantidade dos produtos oferecidos ao mercado. Pouca gente fala sobre o assunto, praticamente ninguém fiscaliza e muito menos reclama. Como se não bastasse, o Estado é omisso e elas vicejam como ervas daninhas.

Referências Conexas

VIEIRA, Francisco. G. D. ; CRUBELLATE, João M.; SILVA, Ilse G. ; SILVA, Wânia. R. Silêncio e omissão: aspectos da cultura brasileira nas organizações. Revista de Administração de Empresas – Eletrônica, v. 1, n. 1, p. 1-14, 2002.

VIEIRA, Francisco. G. D. A soberania do consumidor como um mito perante situações de redução de embalagens no mercado brasileiro. In: XXVII ENCONTRO ANUAL DA ASSOCIAÇÃO NACIONAL DOS PROGRAMAS DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO (2003: Atibaia). Anais ... (Área de Marketing). Rio de Janeiro : ANPAD, 2003. (Versão integral em CD-ROM do Evento)

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Demi & Scarlett: consumindo a própria imagem

Há cenas que são consideradas mais apropriadas para adolescentes, em plena fase de descoberta do corpo. É o caso típico de se observar incansavelmente no espelho e fotografar o próprio corpo. As redes sociais estão repletas de fotos desse tipo: não aquelas que os outros fazem de nós, mas as que fazemos de nós próprios.

Todos, em maior ou menor medida, consomem vaidade. Observar, registrar e compartilhar a própria imagem é uma forma de vaidade. Inclusive entre adultos. E não apenas adultos anônimos. De modo surpreendente, adultos famosos que estão em telas de cinema e locadoras de vídeo no mundo inteiro, e que são assediados e objeto de desejo de fãs e paparazzi, fazem algo idêntico àqueles que estão longe de serem celebridades.

Isso reflete apenas a própria natureza humana? Será uma peculiaridade da cultura pós-moderna? Ou mesmo algo que está imbricado na sociedade do espetáculo?

Demi Moore registrou sua própria imagem com um aparelho de telefonia celular e a divulgou, ela mesma, por meio da internet. Scarlett Johansson também registrou sua imagem com um celular, mas não a divulgou. Hackers acessaram o seu telefone, roubaram suas imagens e as divulgaram. Demi estava vestida. Scarlett está nua.

Referências Conexas

BAUMAN, Zygmunt. Consuming life. Journal of Consumer Culture, v. 1, n. 1, p. 9-29, 2001.

JOY, Annamma; SHERRY Jr., John F.; TROILO, Gabriele; DESCHENES, Jonathan. Re-thinking the relationship between self and other: Levinas and narratives of beautifying the body. Journal of Consumer Culture, v. 10, n. 3, p. 333-361, 2010.

SAUERBRONN, João F. R.; TONINI, Karla A. D.; LODI, Marluce D. de F. Um estudo sobre os significados de consumo associados ao corpo feminino em peças publicitárias de suplementos alimentares. Revista Eletrônica de Administração, v. 17, n. 1, p. 1-25, 2011.

THOMPSON, Craig J.; HIRSCHMAN, Elizabeth C. Understanding the socialized body: a poststructuralist analysis of consumers’ self-conceptions, body images, and self-care practices. Journal of Consumer Research, v. 22, n. 2, p. 139-153, 1995.

sábado, 10 de setembro de 2011

A insensatez do consumo por meio do leilão virtual

Os recursos proporcionados pela Internet e pela World Wide Web têm criado muitas alternativas e possibilidades de comercialização de produtos e serviços. Os leilões virtuais representam uma delas e se caracterizam, sobretudo, pela competição entre compradores para a aquisição de uma determinada oferta. A ideia dos leilões é que os compradores adquiram os produtos oferecidos por um preço, a princípio, menor do que o preço praticado no mercado convencional, como se pode ver na imagem acima do leilão Lances de Vantagens, que opera em parceria com a rede Ipiranga de combustíveis e lojas de conveniência.

O que tem ocorrido, no entanto, contraria frontalmente a sugestão de que os produtos adquiridos por meio de leilões virtuais vêm a ter um custo inferior para aqueles que deles participam. Além de isso não acontecer, os leilões virtuais estimulam comportamentos de consumo que são preocupantes, como a compra por impulso e a competição para o consumo.

Ao acessarem os websites de leilões virtuais, consumidores têm adotado um comportamento competitivo e impulsivo. O que tem prevalecido é a noção de jogo entre os consumidores, de modo a que um consumidor presente no leilão virtual faz inúmeros e contínuos lances para arrematar um determinado produto. Isso é fruto do curtíssimo intervalo de tempo permitido para cada novo lance, estipulado, em alguns websites, em até no máximo 30 segundos. Com esse mecanismo, as operadoras de leilões virtuais produzem uma acirrada competição entre os consumidores, gerando, por conseguinte, a insensatez de produtos serem adquiridos por preços acima do preço de mercado, conforme se verifica por meio da imagem abaixo.

As empresas que oferecem leilões virtuais procuram assegurar que caso um produto seja adquirido por um valor maior do que o valor de mercado, o consumidor pagará o valor de mercado e não o preço final alcançado pelo produto durante o leilão. Ocorre que o consumidor também irá pagar o frete para a entrega do produto em sua residência. Isso já é suficiente para se ter um custo acima do que seria o custo de uma aquisição regular no mercado. Ademais, há sempre a possibilidade de que o valor de mercado notificado pela operadora do leilão virtual não corresponda e, portanto, esteja acima da média de preços praticados no mercado para um produto.

Um outro aspecto que deve ser levado em consideração é que a própria operadora do leilão virtual pode usar de expedientes distantes do que se considera ética empresarial, caso ela escale um funcionário para, de forma anônima, realizar infinitos lances durante o leilão, puxando os preços dos produtos para cima. Como o consumidor que está em casa não vê e não conhece os outros consumidores que, assim como ele, estão fazendo os lances por meio de pseudônimos, a operadora do leilão pode muito bem criar um consumidor fictício, interno à empresa, para manipular o leilão e produzir maior competição, implicando em maior volume financeiro ao longo dos leilões.

Os leilões virtuais podem até ser cercados de algum tipo de entretenimento e prazer, mas pelas questões apontadas acima, podem, também, ser compreendidos como produtos e produtores de insensatez e irracionalidade em consumo.

Referências Conexas

CAMERON, Dylan D.; GALLOWAY, Alison. Consumer motivations and concerns in online auctions: an exploratory study. International Journal of Consumer Studies, v. 29, n. 3, p. 181-192, 2005.

DONEGÁ, Ricardo A. Atitudes em relação à sites de leilão on-line: um estudo exploratório com internautas brasileiros. São Paulo: FEA-USP, 2004. (Dissertação de Mestrado em Administração)

FEATHERSTONE, Mike. Cultura de consumo e pós-modernismo. São Paulo: Studio Nobel, 1995.

STERN, Barbara B.; STAFFORD, Marla R. Individual and social determinants of winning bids in online auctions. Journal of Consumer Behaviour, v. 5, n. 1, p.43-55, 2006.

VILCHES, Lorenzo. A migração digital. São Paulo: Loyola, 2003.

VOUGA, André. Os leilões virtuais e a dimensão cultural da formação do valor econômico. Comunicação, Mídia e Consumo, v. 5, n. 12, p. 77-93, 2008.

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Classe “A gargalhada”

Nos últimos tempos tem sido intensa a cobertura da imprensa com notícias sobre PIB, renda per capita e classes de rendimento econômico no Brasil. Uma dessas notícias despertou o interesse pelo título inusitado, concernente àquela que está sendo considerada uma nova classe de rendimento. Deu na Folha de S. Paulo que se trata da classe “A gargalhada”. Essa classe, substancialmente superior à classe A do já conhecido Critério Brasil, possui uma renda mensal individual acima de R$ 50.000,00. Dizem que rico ri à toa!

Esse post compõe uma série chamada “Web News”. Trata-se de observações realizadas acerca de notícias relacionadas à temática de cultura e consumo publicadas na World Wide Web.