Os estudos publicados no campo de cultura e consumo nos
reportam fenômenos de consumo e procuram analisá-los em inúmeros eixos
temáticos, desdobramentos teóricos e situações empíricas. Em geral, tais
estudos abordam o processo de aproximação, aquisição, posse, uso e incorporação
de objetos materiais. São pouco frequentes, ou até mesmo raros, estudos, dentro
do próprio campo, que tratam de abandono de produtos ou anticonsumo. Publicado
recentemente, o artigo “Motivações e significados do abandono de categoria:
aprendizado a partir da investigação com ex-fumantes e ex-proprietários de
automóveis” (Cadernos EBAPE.BR, v.10, n. 2, p. 411-434, 2012), de autoria de
Maribel Suarez, Marie Agnes Chauvel e Letícia Casotti, de algum modo procura preencher
essa lacuna. Tomando como referência para análise duas categorias de produtos, automóvel
e cigarro, o artigo destaca e diferencia três tipos de abandonos: o abandono
contingencial, o posicional e o ideológico. Trata-se de uma ótima contribuição
no sentido de melhor entendermos como o anticonsumo pode ocorrer por meio do processo
de abandono de produtos.
Marie Agnes Chauvel
Uma das autoras do artigo, a Professora Marie Agnes Chauvel,
deixou-nos no último mês de julho. Francesa radicada no Brasil desde jovem,
Marie realizou sua formação acadêmica em nosso país. Trabalhou como assistente
e analista na área de administração em empresas brasileiras e foi professora e
pesquisadora de instituições como a UFRJ, o IBMEC, a Universidade Estácio de
Sá, o ISAE/FGV, a PUC-RJ e a Universidade Federal de São João Del-Rei. Escreveu
vários artigos e orientou dezenas de trabalhos acadêmicos. Marie era uma
referência em estudos sobre consumo no Brasil e sua ausência será sentida.
Esse post compõe uma série chamada "Olhar Acadêmico". Trata-se de observações sobre trabalhos na forma de artigos, dissertações, teses ou livros relacionados direta ou indiretamente ao campo de cultura e consumo.